Darth Vader vai à terapia

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Por Caroline Benigno Cardoso | 3 de ago. de 2020 | Personagem na terapia | Terapia do Esquema | comentário(s)

Aqui será feita uma breve análise fictícia do personagem Darth Vader, de Star Wars, com base na Terapia do Esquema de Jeffrey Young.

A Terapia do Esquema (TE) procura buscar padrões cognitivos e emocionais criados na infância e adolescência, que muitas vezes prejudicam a pessoa em situações atuais, por impulsionarem reações desproporcionais ou intenso sofrimento.

Um dos aspectos psicológicos centrais, que tem muito a ver com a história de Darth Vader, é o seu problema em relação à regulação emocional. Muito dos seus problemas e da sua mudança de perspectiva em relação ao mundo deve-se à visão dicotômica das coisas, o que fez com que ele interpretasse as emoções como extremos e como estados permanentes.

Como seria se Darth Vader resolvesse ir à terapia durante o episódio VI – O Retorno de Jedi

Na terapia:

Darth Vader buscou a terapia no período em que soube que seu filho Luke estava se tornando um Jedi, o que provavelmente fez despertar o conflito precariamente enterrado entre os seus lados da força.

Ele chegou questionando a habilidade de sua terapeuta e logo a intimidou, para que não espalhasse o que ele contasse ali. Também exigiu resultados rápidos, principalmente em relação aos seus pesadelos. A terapeuta explicou que a sessão tem caráter sigiloso e que ele está em local seguro.

Vader permanecia um tanto desconfiado, mas ao longo das sessões se sentiu acolhido e mais à vontade, pois a terapeuta não o julgava mesmo com os seus constantes ataques a ela. Vez ou outra, referia que a terapia não iria funcionar, e dizia que isso parece “bobagem de Jedis”, que ficavam tentando analisar seus sentimentos. A terapeuta seguia buscando oferecer escuta e amor incondicional, dentro dos limites terapêuticos, coisa que Vader não estava acostumado a receber.

Ele enfim relatou que se culpava muito por escolhas que havia feito no passado. Contou que tinha pesadelos terríveis que mostravam padawans fugindo dele, e também sobre a morte de Padmé. A terapeuta procurou aos poucos alcançar a experiência emocional relacionada a essas memórias.

Ao longo da terapia, foi possível chegar ao pequeno Anakin. Ele trazia um menino muito habilidoso e independente, mas, aos poucos, revelou um cenário de intenso sofrimento e precariedade, pois ele e sua mãe foram escravizados. Percebe-se aí que muitas necessidades emocionais importantes não foram atendidas e que Anakin carregava marcas em relação a isso.

Ele contou que, devido à sua sensibilidade à força, foi levado por Qui Gon Jeen e se encantou com a vida que poderia ter como Jedi. No entanto, o Conselho Jedi inicialmente relutou em treiná-lo, por ser mais velho que os outros padawans, o que reforçou o seu não-lugar no mundo e um sentimento de injustiça.

Anakin disse que recebeu o treinamento Jedi e passou a ter um grande amigo, o Obi Wan, e refere que sempre questionou os deveres do Código. Aquilo parecia muito rígido para ele. Disse também que por mais que tentasse, não conseguia afastar-se dos pensamentos relacionados às injustiças que viveu e vivia, o que trazia muita raiva. Não conseguia entender a necessidade da proibição sobre manter relacionamentos amorosos e sentia raiva de precisar manter a relação com Padmé às escondidas. Percebia que várias situações, os Jedis eram hipócritas. A situação piorou após o assassinato da mãe, quando foi tomado de ódio, desejo de vingança e culpa, ao notar que não pôde protegê-la.

Neste período da terapia, já passado algum tempo, Anakin se sentia muito à vontade. A terapeuta o chamava sempre por esse nome, para buscar mais do seu lado mais vulnerável e verdadeiro.

Por meio do exercício de imagens mentais, Anakin entrou em contato com intensos sentimentos relacionados aos traumas do passado e pouco a pouco conseguiu lidar com a profusão de emoções que podem aparecer juntas. Algumas lembranças foram modificadas, o que o fez se sentir menos culpado, diminuindo a frequência e intensidade dos seus pesadelos.

Aos poucos, Vader compreendeu que a experiência emocional é complexa, que ele pode viver emoções tidas como contraditórias ao mesmo tempo, e que elas não são permanentes, mas sim como ondas que chegam ao pico e vão embora. Compreendeu que a expressão das emoções, o comportamento que tem a partir delas, não é rígido e que ele tem a capacidade de pensar a respeito do que sente antes de agir.

Próximo do final da terapia, ele comentou que tem sido mais compreensível com os erros das pessoas que trabalham com ele.

Com frequência, se sentia tomado pela vontade de deixar de ser um Sith, mas percebia que não teria outro lugar para ocupar com o mesmo status. Sentia muita vontade de ter contato com seu filho Luke, mas temia que não fosse bem recebido por ele.

A terapia de Vader parou nesse ponto. Ele decidiu abandoná-la, dizendo que já estava bem melhor dos pesadelos que tinha e que não poderia agora deixar de ser Darth Vader. Disse que Anakin só existia na sala da terapeuta e que mais ninguém poderia percebê-lo como aquele jovem com muito potencial para o bem. Resignado, referiu que em breve teria que cruzar com o filho, mas que estariam em lados opostos.

A terapeuta se colocou à disposição para quando ele quisesse voltar e dar mais voz ao seu Anakin.