O que são as distorções cognitivas? (Parte I)

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Por Caroline Benigno Cardoso | 22 de mai. de 2020 | Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) | comentário(s)

Distorções cognitivas são erros persistentes que todos os humanos podem cometer em sua forma de pensar. São interpretações equivocadas da realidade, que podem se basear em um histórico anterior de eventos, mas que fazem com que se interprete erroneamente a situação atual. No geral, há a ausência de evidências ou evidências parciais a favor daquele pensamento em que se acredita.

Estes erros podem estar relacionados a algum transtorno psiquiátrico, quando há, por exemplo uma maior tendência a focar nos aspectos negativos na depressão ou ser catastrófico na ansiedade.

Lembre-se: Todos nós realizamos distorções. E algumas delas são amiguinhas e podem aparecer juntas.

Geralmente, as pessoas tendem a usar os mesmos tipos de distorções, mas isso não significa que exista um padrão fixo que não possa ser modificado. E o primeiro passo é saber quais delas costumam acontecer com você. Você sabe quais são as distorções que você costuma cometer?

A seguir, apresento a primeira parte da lista de 17 distorções cognitivas definidas por Leahy (2019) com a participação de alguns personagens:

1. Leitura mental: Você imagina que sabe o que as pessoas pensam sem ter evidências suficientes dos seus pensamentos.

Não finja que você está com vontade de falar comigo. Eu sei que você me odeia. Faz parte da estrutura do Universo.” – Marvin, de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”

É verdade que o Marvin é odiado em muitas situações, mas não em todas. Isso faz com que essa interpretação seja uma distorção, já que ele não tem elementos suficientes para afirmar que seu interlocutor o odeia, neste caso específico.

2. Previsão do futuro: Você prevê o futuro em termos negativos envolvendo fracasso ou perigo.

3. Catastrofização: Você acredita que o que aconteceu, ou acontecerá, será tão terrível e intolerável que não conseguirá suportar

Isso de nada adiantará, vamos todos morrer… se tivermos sorte!” – Marvin, de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”

O exemplo acima serve para os itens 2 e 3, por se tratar do futuro e por ser algo terrível. Novamente, se trata de um pensamento pessimista e com poucas evidências. Ambas as distorções são frequentes juntas.

4. Rotulação: Você atribui traços negativos globais a si mesmo e aos outros.

Eu sou a Murta que Geme. Não esperava que me conhecesse. Quem ouviria falar na feia, triste e sem graça Murta que Geme?” – Murta em Harry Potter e a Câmara Secreta.

5.Desqualificação dos aspectos positivos: Você alega que as coisas positivas que faz ou que os outros fazem são triviais (por ex: “Não fez mais do que sua obrigação)

6.Filtro negativo: Você foca quase exclusivamente os aspectos negativos e raramente percebe os positivos (por exemplo, “várias pessoas me deram parabéns, mas a Maria esqueceu do meu aniversário”)

7.Supergeneralização: Você percebe um padrão global de aspectos negativos com base em um único incidente

Eu sou um perdedor, e sempre serei um perdedor” – Uzumaki Naruto, após perder uma batalha.

Este exemplo é válido para os itens 5, 6 e 7 acima. Naruto sempre esteve se esforçando muito para superar o Sasuke e ser capaz de enfrentar os adversários mais poderosos que aparecessem no caminho, como os membros da Akatsuki. Contudo, em vários momentos, ele apresentou pensamentos distorcidos focando apenas nos aspectos negativos, desqualificando os aspectos positivos e considerando apenas as derrotas recentes, como se ditassem a verdade sobre si mesmo e seu futuro como shinobi.

8.Pensamento dicotômico: Você vê acontecimentos ou pessoas em termos de tudo ou nada (8 ou 80)

A humanidade é uma droga e eles não merecem ser salvos.” – Jessica Jones (Na série da Netflix)

Em vários momentos Jessica se mostrou decepcionada com algumas pessoas que a fizeram perder a esperança na humanidade. Em outros momentos, ela acreditou que algumas pessoas são justas e que mereceriam ajuda. A fala acima demonstra um profundo descontentamento, o que a leva a pensar de maneira extrema.

Você conseguiu perceber se comete algumas dessas distorções? Quais?

Tem mais algumas na parte II deste texto!

Lembrou de mais algum personagem que serve de exemplo destas distorções? Foi um pouco difícil encontrar exemplos para todas as distorções da lista, considerando que pincelei falas que demonstram situações pontuais, muitas vezes não tão relevantes na obra.

Se você se lembrou de algum personagem que melhor exemplifica, fique à vontade para comentar e tornar esse conteúdo melhor 🙂

LEAHY,R. L. Técnicas de terapia cognitiva: Manual do terapeuta. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.