Precisamos falar sobre especismo – Reflexões sobre a história de Rocket Racoon em Guardiões da galáxia vol. 3
(Contém spoilers leves)
Guardiões da Galáxia vol. 3 vem fechando lindamente a história dos Guardiões. Acompanhamos as aventuras dessa família de seres machucados, todos com histórias difíceis – alguns com traumas relacionados as suas famílias de origem ou de eventos mais recentes, como no caso do Drax que perdeu sua família já adulto. Todos ali com vontade de criar conexões verdadeiras e de se sentirem amados.
No volume 3, temos Rocket Racoon como protagonista, trazendo a sua sofrida história de origem – ele era um guaxinim comum quando foi vítima de uma série de experimentos encabeçados pelo Alto Evolucionário, que queria criar a espécie perfeita. No laboratório onde fora criado, Rocket criou laços com outros animais antropomórficos e fez deles a sua família. Ali criaram sonhos e muita esperança de um dia serem livres. E o que segue é de doer o coração.
O Alto Evolucionário segue tentando criar espécies mais aperfeiçoadas ignorando a dor e as necessidades das cobaias. Ele cria e destrói raças inteiras por não terem alcançado a perfeição almejada. Vemos aí uma relação com a essência da eugenia, no sentido de buscar as “melhores características hereditárias”, mas mais especificamente com o especismo, quando ele se coloca em um lugar de superioridade em relação as outras espécies.
O especismo é um conceito inicialmente criado pelo psicólogo e filósofo Rychard Ryder e desenvolvido por defensores dos animais que diz respeito a discriminação e subjugação praticada por humanos em relação as outras espécies. Se compreende que os animais não-humanos são menos importantes e que seus direitos e necessidades tem menor valor. Assim, na nossa sociedade é amplamente autorizado o uso dos animais para alimentação, vestimentas, uso cosmético e na ciência, sendo bem difícil alguém ser julgado por subjugar outro ser. (já sinto o cheiro de polêmica chegando aqui). Por mais argumentos lógicos que existam em favor desse uso dos animais nos diferentes contextos, ainda assim é especismo o que fazemos e precisamos assumir isso.
No filme, a atitude cruel do Alto Evolucionário mostra o extremo destes conceitos, havendo, claro uma escala entre comer uma coxa de frango e ser genocida. Mas, no fundo, são espectros da mesma coisa. Ainda, o fato de estarmos longe dos processos que envolvem a crueldade animal nos torna mais anestesiados para essa violência, restando só a conveniência de ter o produto pronto.
Os filmes dos guardiões sempre trouxeram a diversidade e entre as espécies intergaláticas e a possibilidade de criar intimidade real e respeito entre diferentes seres. Além disso, foi muito presente a defesa de seres mais vulneráveis desde o início da franquia, o que pode servir de inspiração para nós humaninhos.
Enfim, esse filme me impactou profundamente, especialmente porque estou em processo de transição para uma alimentação vegetariana e, futuramente, vegana. E eu sou uma pessoa que desde criancinha acha triste a nossa relação com os animais.
Para finalizar, fica aí o convite para pensar nos seus hábitos de consumo, de vida e na sua relação com as outras espécies.