WandaVision e a representação da loucura como vilania
Este texto traz mais reflexões do que respostas.
Estamos no meio da série WandaVision sendo presenteados com essa maravilhosidade de roteiro, com mil e uma referências ao universo de MCU.
A série mostra toda a complexidade de Wanda e o poder que possui, sendo ela uma mutante e uma das mais fortes Avengers, que possivelmente derrotaria Thanos sozinha.
Como já é de praxe, é muito comum vermos personagens femininas fortes serem transformadas em mulheres loucas. Observamos também que qualquer ato considerado mais autoritário ou violento, quando realizado por mulheres poderosas, facilmente ganha a característica de insanidade. Quero explorar aqui a construção de Wanda que apresenta agora questões emocionais super justificadas, desvinculando a loucura da vilania.
Antes de tudo, precisamos considerar as recentes mortes de seu irmão Pietro e depois do seu amado Vision, tendo sido ambas as mortes violentas. Ainda, Wanda não teve uma infância muito fácil, o que predispõe à certos transtornos mentais. Sabe-se que a morte violenta é um imenso motivador para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ainda mais se a cena foi vista pela pessoa. Então, todo esse contexto de intenso sofrimento psíquico pode ter gerado, além do TEPT, um possível transtorno dissociativo, no qual a pessoa se desconecta da realidade por não conseguir lidar com a intensa dor emocional.
Agora pense na seguinte situação: Se você tivesse poderes de manipulação da realidade e estivesse passando por um intenso sofrimento, você faria alguma coisa? Você mudaria a sua realidade? Ou mergulharia em uma depressão profunda e inerte?
A manipulação da realidade realizada por Wanda se torna complexa e “insana” quando se percebe que ela está causando sofrimento a toda a população de uma cidade. É nesse momento que ela se transforma de frágil enlutada em louca. E louca como sinônimo de perigosa. Perceba que em nenhum momento Thanos foi caracterizado como louco. O mesmo cara que matou metade da população do universo.
O problema aqui não é a caracterização dos transtornos mentais – Wanda realmente esta apresentando prejuízos emocionais significativos nesse momento. O problema é caracterizar o transtorno mental como algo necessariamente perigoso, pois a partir disso o tratamento muda completamente – de escuta e acolhimento à coerção e violência.
A complexidade e riqueza da série está na seguinte questão ética “Mas e aí? O que faremos para proteger a população de Westville? Até que ponto podemos defender Wanda?” E de novo a ficção mostra lindamente como pessoas machucadas também podem machucar.
Enfim, eu não tenho respostas. E você? Qual destino daria a Wanda e ao povo de Westville?